Semestre escolar inicia e depois de mais ou menos dois meses de aulas, muito pais são chamados em reuniões na escola para que a professora possa dar um feedback do comportamento e aprendizagem dos filhos. Afinal, com dois meses de aula, a professora já consegue perceber quem é quem na sala de aula.
Pais de crianças com TDAH costumam já esperar ansiosamente por essas reuniões não só pelas questões comportamentais, como a agitação e por vezes, oposição, mas também pela aprendizagem:
– “Será que meu filho está conseguindo acompanhar a turma?”
– “Todas as tarefas de casa estão sendo feitas?”
– “Como que está a questão da produção de texto”?
– “E as provas?”
E toda essa preocupação tem sentido. Apesar de nem toda criança com TDAH apresentar dificuldades de aprendizagem, a maioria tem sim!
A grande maioria dos estudantes com TDAH tiram notas mais baixas que o esperado em uma ou mais matérias; obtém escores baixos em testes escolares padronizados (como o TDE II que a gente tanto usa); apresentam mais erros ortográficos e de acentuação que o esperado para escolaridade; tem dificuldade de produção de textos; esquecem de entregar as atividades de casa ou entregam de forma incompleta, etc etc etc… poderia descrever mais e mais linhas do que a literatura e esses 14 anos de vivência clínica me mostram.
Mas por que isso acontece?
Alguns motivos eu sei que você já sabe.
O rendimento escolar de uma criança com TDAH pode ser afetado devido a dificuldade em se manter atento às explicações e atividades escolares, a famosa expressão “mundo da lua”, conhece né?
Mas não é só isso!
Elas têm pouca paciência para estudar e fazer os deveres, afinal, isso exige muito esforço cognitivo para alguém que tem dificuldade atencional. Dessa forma, escutamos sempre dos pais que tarefas que poderiam durar apenas 30 minutos, as crianças demoram 3 horas para fazer pela desatenção e agitação, mas também pela resistência em iniciar e terminar.
E a gente precisa entender isso, porque para nenhum de nós, adultos, fazer algo que é difícil para nós é prazeroso. Não mesmo!
Além disso, a cabecinha incrível dessas crianças consegue fazer 2 ou mais coisas ao mesmo tempo (não que saia tudo com qualidade, mas eles conseguem sim). Então, ficar parado assistindo somente a professora na sala de aula ficar falando por incessantes minutos não parece ser algo possível para essas crianças.
Eles levantam da cadeira, cutucam o colega, desenham na mesa ou caderno, folheiam os livros, brincam com a borracha, criam joguinhos com o estojo e canecas, pedem para ir ao banheiro para dar uma espiadinha no que está ocorrendo nas outras salas de aula.
Enfim, tudo isso faz com o que essas crianças não tenham um aproveitamento acadêmico satisfatório no final do semestre. Daí, vem a frustrante sensação de não conseguir acompanhar os progressos do restante da turma.
Neurolover, você percebe a gravidade disso tudo na vida de uma criança?
Você percebe as possíveis consequências emocionais, psicológicas e sociais da dificuldade de aprendizagem na vida de alguém?
Olhe, estou te chamando a atenção para isso somente por um motivo: você pode mudar a vida de uma criança. Sim, você pode!
Entenda: essas crianças precisam de tratamento e muitos pais nem sabem disso, porque desconhecem que o filho apresenta um transtorno.
Nenhum pai ou mãe quer errar com o filho. Mas eles erram porque desconhecem. Erram quando deixam de tratar, erram quando acham que a criança é preguiçosa. Erram quando castigam ou batem porque a criança desatenta tirou notas baixas.
Faça sua parte: divulgue! Fale sobre os sintomas do TDAH, os sinais precoces, como identificar os sinais de alerta e o que fazer quando os pais suspeitarem que algo não está bem.
Fale. Não deixe o conhecimento que você tem guardado só para você só porque tem vergonha de falar.
Vale mais a vida de uma criança ou sua vergonha de se expor?
Todos temos deveres sociais.
Abraço,
Sarah Cassimiro Marques
Para saber mais: